Edição 534
Crónica: Os políticos zangões e pérfidos
Vivemos numa sociedade de areias movediças, em que a espuma da propaganda política está embrulhada em chavões pré-fabricados nas centrais de informação e o próprio mundo da política está infestado de charlatões, de tagarelas, linguareiros, de hordas de mexeriqueiros, de engana-tolos, que prometem tudo e mais alguma coisa, cuja única vontade é seduzir o povo, para lhe arrancar o voto. É preciso fugir daqueles políticos simpáticos por fora, parecendo justos aos olhos do povo, mas por dentro estão cheios de imundice, repletos de hipocrisia e perversidade.
É verdade que muitos políticos dominam muito bem a arte e os malabarismos, as argúcias e os enredos da retórica, têm uma mística ardente e arrebatada, exprimem-se por metáforas e interrogações apaixonadas, mas exaltam áridos discursos sem genuinidade e sem conteúdo, são um alfobre de trivialidades, utilizam argumentos frágeis e incoerentes, e os seus conhecimentos são vagos, não dominam os enredos do pensamento e não alcançam nenhuma profundidade, nem têm uma conclusão raciocinada própria nem um apriorismo dogmático, fazendo gala da sua persuasão e eloquência nas pérfidas congeminações infames e frívolas. Pensam ser o que não são.
Subjugadas ao encanto das suas palavras elegantes, são muitas as pessoas que ainda se deixam enganar pelas patranhas destes políticos, que são zangões do bem falar, que conseguem enredar os seus ouvintes de tal maneira que os mais incautos acabam convencidos de que um elefante tem asas e voa.
As artes do disfarce estão tão bem desenvolvidas que podemos estar certos de subestimar o número de «sacanas» que conhecemos na vida pública. São muitos os «sacanas» que são geniais, têm uma enorme capacidade de disfarçar a malevolência da sua natureza, deturpando os argumentos a seu favor, iludindo as pessoas com ideias caprichosas, são eloquentes e subtis, sendo preciso saber descodificar as suas mensagens, pois muitas são apócrifas, são falsas até ao «tutano». São políticos pior que falsos, são pérfidos e embebedam-nos de propaganda que não parece propaganda.
Os políticos não se medem pelas suas palavras, mas pelas suas atitudes. As palavras ocas e falsas, que vão uivar nos nossos ouvidos e as ondas das promessas eleitorais irrealistas, deveriam desfazer-se na nossa indiferença, pois são muitos os políticos que tentam passar-nos um atestado de burrice, mas têm a sensibilidade social de um pedregulho. Discutir ideias ou comentá-las com seriedade é sempre mais difícil porque exige qualidades, que muitos políticos da atualidade não as tem, principalmente quando interpretam os antípodas daquilo que diziam lutar há muitos anos.
Muitos políticos da nossa praça, quando eleitos gostam de afastar o povo das decisões e da democracia, para assim despolitizarem o seu “quintal” e fazerem livremente as suas negociatas, enriquecendo à custa do erário público. Infelizmente são muitos os políticos promíscuos, corruptos, que estão na política para se servirem, a si e aos seus familiares e amigos mais próximos. É quando a qualidade da política nasce raquítica e morre anã.
Esta é uma consequência muito nefasta para a Cidadania, em que os eleitores cultivam, cada vez mais, um distanciamento irreverente em relação às instituições, com grave prejuízo para a Cidadania, mas também para a Democracia. É verdade que também existe uma enorme iliteracia no que respeita à Cidadania. É preciso que todos pratiquem a Cidadania, neste País heterogéneo.
Felizmente, o país ainda tem alguns políticos, que prezam a sua palavra e honram os seus compromissos, são homens justos que estão na política em missão de serviço público. É a política com sentido, a política altamente nobre!
moreira.da.silva@sapo.pt
www.moreiradasilva.pt
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