Edição 497
Outdoor publicitário num cemitério
Para os menos familiarizados com o termo, a palavra outdoor, resulta de um estrangeirismo que, traduzido na língua de Camões significa, nem mais nem menos, “Cartaz ou painel publicitário de grandes dimensões, geralmente colocado em locais de grande movimento…”.
Normalmente são utilizados por empresas privadas que pagam para exibir os seus produtos ou serviços em função do lucro que esperam obter; no decurso das campanhas eleitorais segundo regulamentação previamente estabelecida, para dar a conhecer aos cidadãos os candidatos e os programas eleitorais; pelas organizações públicas ou privadas para promover a participação num evento ou para sensibilizar para alguma causa. Por fim, e ainda dentro da utilização deste tipo de “infraestrutura publicitária”, lembra-me o triste momento de venda da nossa soberania, mais concretamente com a utilização de fundos comunitários a “torto e a direito”, em que nos era imposto pela Comunidade Europeia (o estado português gostou da moda, aproveitando-a para a sua politiquice interna): “Se querem o nosso dinheiro, têm de divulgar que fomos nós que o demos…”, e lá vinham umas tantas referências, não sei quantos milhões para uma estrada, não sei quantos milhões para pontes, mais alguns milhões para os estádios do Euro, etc., etc., etc. Era a regra do jogo! Os dirigentes políticos portugueses eleitos foram inaugurando obras com o dinheiro dos outros, deixando a fatura para a minha geração e as que aí virão, pagar…!
Quando parece que os portugueses estão a aprender a lição, surpreendo-me com uma destas réplicas na Trofa, mesmo à porta do cemitério de S. Martinho de Bougado, a anunciar uma obra de ampliação da capela mortuária!
E a minha pergunta é: era mesmo preciso anunciar esta obra? Alguém vai morrer mais depressa para a utilizar? Serve alguém, este tipo de exibições?
Para os finados não é certamente, embora a pressa em colocar a tal “infraestrutura publicitária” poucos dias antes do seu dia, até pode levar os mais distraídos a pensar que seria para eles.
Até compreendia e aceitava a colocação de um outdoor virado para o interior do cemitério, com uma imagem alusiva ao dia (e até seria inovador!), contendo umas flores ou umas velas com uma expressão, “para todos os que gostariam e não conseguem homenagear os seus entes queridos” (é que infelizmente a crise toca a todos, tanto que os vendedores de flores e de velas também se queixam), como tal, não me chocaria nada a menção: “a Junta de Freguesia de Bougado, blá, blá, blá, blá, blá, blá…”
Agora com uma maquete a anunciar uma obra que só nos interessa nos piores momentos da nossa vida (que para já não passa de um projeto), parece-me no mínimo ridículo e de muito mau gosto! Não se apela a contribuições de particulares, porque ela é financiada com dinheiro dos nossos impostos e executada, isso sim, por decisão política. Logo, ninguém fica a dever nada a ninguém, a obra é do povo da freguesia. Quem lá está e que foi para lá por sua ambição pessoal, tem mais é que trabalhar em troca do dinheiro que a freguesia paga.
Dito ainda de outra forma, para que não permaneçam dúvidas, esta obra, a acontecer, não há de ser resultado meritório de alguém, mas sim uma vontade na utilização de dinheiros públicos, logo parece-me vaidade exibi-la (por antecipação) em tão grandes proporções, além de entender que se está a esbanjar dinheiro público com este tipo de desvarios!
Ao ver semelhante mamarracho (o outdoor, e não a obra que ele anuncia) só me vêm à lembrança as promessas eleitorais (campanha, claro!) de dar prioridade às políticas sociais. Será que sabem que aquele gasto (por vontade política!) daria para confecionar mais de 500 refeições sociais?
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