Edição 496
“O Partido Comunista acaba sempre por ter razão passados uns anos
Ao revisitar pergaminhos escritos do passado encontro um número deste jornal datado de 22 de novembro de 2012 onde Paulo Queirós, hoje membro da A.M. da Trofa e dirigente concelhio do PCP, num balanço aos 14 anos do concelho apresenta uma frase, que serviu de título à entrevista, que até poderia ser sábia, não fora ela uma mera constatação da realidade, não deixando de sagaz ser: «O Partido Comunista acaba sempre por ter razão passados uns anos.»
De facto, ao longo dos últimos anos, muita gente interroga-se pela bondade da “integração europeia”, pela benignidade do “euro”, pela complacência da privatização dos setores estratégicos, como aconteceu com a EDP, PT, CTT e como ainda pretendem fazer com a água, a TAP, etc…, ou pela simples rendição à Troika e aos Mercados. É que em tudo, teve sempre a feroz oposição do PCP, que apontou sempre um caminho diferente: A intitulada alternativa política «patriótica e de esquerda». Esta passa pela renegociação da dívida pública, dos seus montantes juros e prazos, para que seja possível o desenvolvimento do País (só passado muito, muito tempo, surge o manifesto dos 74 a dizer o mesmo); passa pela promoção e valorização da produção nacional e a recuperação do controlo público da banca e do setor financeiro, dos setores e empresas estratégicas (já hoje muitos comentadores também defendem o mesmo); passa pelo aumento dos salários dos trabalhadores; pela defesa de serviços públicos e funções sociais do Estado, do direito à educação, à saúde, à proteção social; passa por uma política fiscal que reduza a carga sobre os trabalhadores e as pequenas e médias empresas e tribute pesadamente o grande capital, a especulação e os lucros e passa pelo repúdio da ditadura do euro e da UE, recuperando para Portugal a soberania económica, orçamental e monetária. Esta proposta reflete um certo conteúdo ideológico, é verdade, mas também revela um intenso patriotismo e assume a luta insubstituível contra a subordinação da política aos grandes interesses financeiros e económicos, que tem caracterizado os partidos do poder, a que alguns descontentes vêm depois a chamar mansamente de promiscuidade entre os políticos e as grandes empresas.
Nesta parte, o PCP está muito à frente de qualquer outra força. É mais «moderno» e atual porque consegue, enquanto partido perspetivar o futuro, dando já as possibilidades de solução. O raciocínio é simples, mas límpido: o volume monstruoso da dívida pública e externa, em grande parte ilegítima, torna o seu pagamento insustentável e contrário a qualquer perspetiva de desenvolvimento; a qualquer altura, Portugal vai ter que renegociar a sua dívida pública e externa, mas quanto mais tarde o fizer, pior; a sujeição a uma moeda única que resulta contra os interesses nacionais, que beneficia o capital e as grandes potências, não consente crescimento e criação de emprego, e contribui, em grande parte, para a condição periférica e dependente de Portugal; o controlo privado da banca, tem sido e é, um bloqueio ao investimento produtivo, não passando de um instrumento da especulação e acumulação capitalista, um campo de putrefação e corrupção, com titânicos proveitos para os acionistas e desumanas perdas para o nosso povo. O BPN e agora o BES são bons exemplos.
Se não se renegociar a dívida, se o país não se organizar para uma libertação da vassalagem ao euro, se não se reaver o controlo público da banca, nenhum dos grandes problemas nacionais se resolverá.
Ora, no passado dia 15 de outubro, foi discutida e votada na Assembleia da República uma proposta do PCP apontando para a renegociação da dívida pública, para a preparação do País em função da libertação do euro e para a recuperação do controlo público da banca. Foi a primeira vez que uma iniciativa com este conteúdo e alcance teve lugar em Portugal. Claro que PS, PSD e CDS, votaram contra chumbando a proposta e o BE absteve-se num dos pontos cruciais (preparação do País para a libertação do euro). Mas para os que julgam que se tratou do fim de uma proposta, pode-se afirmar que foi somente o início de uma polémica que irá continuar e, é por estas razões que faz sentido a afirmação de Queirós de que «O Partido Comunista acaba sempre por ter razão passados uns anos.»
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