Edição 496
Inês perdeu a luta contra o cancro
“Aqueles que passam por nós, não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. A mensagem, acompanhada por um desenho de um menino que olha o céu, surge na página de Facebook que serviu para a mãe de Inês Reis relatar a luta da jovem contra o cancro. “Raio de luz” foi a definição de Rosa Vilari-nho para descrever a filha e é o mesmo que, desde a noite de segunda-feira, habita o céu.
Inês perdeu a luta contra a doença, mas deixou um legado incomparável, um exemplo de coragem que sensibilizou milhares de pessoas e cuja determinação provocou um tsunami de emoções. A onda de solidariedade crescia todos os dias, não tinha credo, cor, nem género. Só havia lugar para boas vibrações, aquelas que faziam bater os corações solidários e neutralizavam qualquer mau pensamento relacionado com a doença.
O “raio de luz” que é Inês jamais se apagará e iluminará a vida da mãe e de todos aqueles que com ela contactaram.
O Notícias da Trofa foi um dos primeiros órgãos de comunicação a relatar a história de Inês, depois de alertado pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia da Trofa. Rosa Vilarinho estava disposta a divulgar o caso da filha, quebrando o desejo de Inês, que não queria que ninguém soubesse que estava doente para não terem pena dela.
Sem nunca contactarmos com a jovem, percebemos a sua força e determinação através das palavras da mãe, outro exemplo de amor incondicional, que canalizou todas as energias para ajudar Inês a ultrapassar este obstáculo.
Inês Reis descobriu, em 2012, que sofria de um carcinoma mioepitelial de partes moles da região lombar, um tumor raro, sobre o qual um médico norte-americano, que ajudou os colegas portugueses, referiu haver “29 casos em todo o mundo”.
Foi submetida a uma cirurgia e radioterapia, mas descobriria, tempos depois, que o tumor tinha metastizado para o pulmão. Fez seis ciclos de quimioterapia e, apesar de os resultados dos exames seguintes terem sido animadores, o cancro voltou a ficar igual.
Sem alternativa, a mãe de Inês decidiu contactar uma clínica, Duderstadt, Alemanha, que desenvolve a imunoterapia, ao utilizar uma vacina de células den-dríticas. Este tratamento foi criado no princípio biológico em que a ideia passa por reprogramar o sistema imunitário dos doentes oncológicos para que as células saudáveis matem as doentes.
A história ganhou expressão, foi disseminada pelos concelhos da Trofa e Maia e foi motivo de várias iniciativas de solidariedade que angariaram fundos para Inês poder ser tratada na clínica, uma vez que os recursos financeiros da família escassearam.
Em Duderstadt, o médico responsável confessou nunca ter contactado com um caso como o de Inês, mas aceitou tratá-la. Seguiram-se, graças ao apoio de conhecidos e anónimos, várias viagens à Alemanha que, porém, não foram suficientes para livrar Inês do tumor.
Desde terça-feira que, no Facebook se multiplicam as mensagens de homenagem a esta menina-coragem, que inspirou milhares de pessoas e deixou uma marca pela lição de vida que protagonizou.
O funeral realizou-se na manhã de quinta-feira, na Igreja de Custóias.
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