Ano 2007
Revolução das mentalidades: do Existir ao Ser.
Todos nós assumimos a condição de Existir desde o momento da concepção quando ainda não passamos de umas simples células em rápida multiplicação. Mas só nos constituímos como Ser a partir do momento em que definimos objectivos, em que adquirimos valores, em que descortinamos a nossa missão, em que ganhamos consciência, em que adquirimos carácter. A nossa verdadeira impressão digital é o nosso carácter e isso é algo que vamos construindo ao longo da vida. Sempre que tocamos em coisas ou em pessoas deixamos a nossa marca que não pode ser vista, nem mesmo recorrendo à luz negra para descobrir as impressões digitais. Todos temos impressões digitais, mas nem todos têm carácter.
Ver a vida por um prisma positivo é difícil, mas é sempre mais agradável do que passar toda a vida a lamuriar, a lamentar e a choramingar. Ter uma atitude pró-activa não é fácil, mas ter uma atitude passiva é contra-natura. Até nas leis da física tem de existir sempre um impulso energético para que se possa desencadear um processo de transformação dos corpos. É este impulso interior de DYNAMIS que os clássicos gregos tão bem caracterizaram como "a vontade de fazer a guerra, de ir à luta" que se torna necessário promover em cada um de nós e na nossa sociedade em geral. No fundo trata-se de substituir o saudosismo do fado do desgraçadinho pela DYNAMIS.
Quando tomamos uma decisão e ela é fundamentada em princípios e valores, devemos ficar tranquilos, ainda que sejamos muito criticados (normalmente por aqueles que, não tendo carácter, passam a vida a desdenhar os demais).
É comum termos uma perspectiva negativa e catastrófica do dia-a-dia e sempre que falamos de catástrofe pensamos em algo de profundamente mau, irremediável e sem solução.
Mas mais uma vez podemos aprender com as civilizações clássicas. Na Grécia antiga KATASTROPHE significa simultaneamente terrível e belo. É aquele milésimo de segundo imediatamente antes da corda da lira parar de vibrar em que o som desaparece e a corda vai entrar de novo em equilíbrio. Significa simultaneamente caos e ordem. É no fundo o caos que vem provocar uma nova ordem. O objectivo da catástrofe não é o caos em si mas antes a nova ordem, o novo equilíbrio e por isso é que é simultaneamente terrível e belo.
A vida é, pois, uma KATASTROPHE, terrível e bela, caótica e equilibrada, má e boa.
Os gregos criaram, na sua mitologia, deuses para cada uma das virtudes e igualmente para os respectivos defeitos. Estes mesmos deuses digladiavam-se entre si travado constantes batalhas no Olimpo.
O Olimpo é, na verdade, o nosso interior, onde constantemente travamos as nossas batalhas interiores e onde, umas vezes triunfam as nossas virtudes e, outras vezes os nossos defeitos. Temos é que saber aplacar os deuses para que esta KATASTROPHE não fique apenas pelo terrível mas alcance igualmente o belo. Há que fazer muitas libações no nosso interior.
A atitude de DYNAMIS perante a KATASTROPHE da vida é a mola impulsionadora do movimento de transformação que, um a um, nos pode conduzir ao sucesso individual e colectivo, contribuindo para uma transformação social profundamente benéfica. É esta mudança de atitude que falta promover na nossa sociedade.
E tudo isto se pode fazer alicerçado num profundo respeito moral e ético, sem prejudicar nem caluniar ninguém…
Helder Santos
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