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Edição 473

Opinião: O Cadafalso Europeu

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Gualter-Costa

Como está hoje diferente a Europa. A Europa da esperança, da solidariedade e do trabalho após a criação do Euro esfumou-se. Reduziu-se à insignificância um continente assombrado pelo desemprego, pela miséria e pela austeridade sem fim. Uma Europa sombria que deixou de ser dos povos para ser apenas um instrumento ao serviço da finança internacional. 

À porta das que serão provavelmente as eleições mais importantes dos últimos anos para Portugal e para a Europa, esta encontra-se num plano demasiado inclinado à direita. Uma inflexão que visa esmagar os sistemas públicos de segurança social, de saúde e de educação abrindo as portas aos gigantescos lobbies privados internacionais.

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O capitular dos direitos perante a finança. Um rumo há muito arquitetado e incentivado pela banca internacional (os detentores desses lobbies em maior ou menor escala) e executada por um punhado de salamaleques que movidos pela ganância e pela promessa de futuros cargos altamente bem remunerados e isentos de impostos, parecem deliciar-se com o auge da austeridade, com a retração civilizacional e com o desespero dos seus povos.

As eleições europeias do próximo dia 25 de maio, são por isso, muito mais que umas eleições. São um ato de resistência e de luta contra o crime do empobrecimento organizado que se generaliza na Europa. São uma arma contra o populismo e o institucionalismo europeu. Neste espaço de futuro congelado, assistimos ao avanço da extrema-direita sobre a Europa, ressuscitando velhos fantasmas que há muito julgávamos enterrados.

Não é só em Portugal e nos restantes países intervencionados que a austeridade marca o dia a dia. Estas eleições ocorrem num quadro de profunda crise económica por todo o continente, de onde emerge um ataque generalizado aos direitos sociais e políticos.

Um guernica dos tempos modernos onde os estados são metralhados pelos ditames da finança que recentemente os seduziu ao endividamento excessivo. Uma das caricaturas desta Europa picassista é a França de Hollande, onde as expectativas de uma “austeridade inteligente” esbarraram na impossibilidade da circulatura do quadrado. Os vincados vértices das loucuras da banca, parecem só possíveis de esbater através da neo-escravatura dos povos. A manutenção de políticas austeritárias, geradoras de altas taxas de desemprego e miséria, permitem a exploração contínua de um exército de mão de obra barata, amedrontada e faminta.

Merkel é a madrinha desta austeridade. É a protagonista de uma Europa conservadora em que as pressões nacionalistas, por um lado, e autoritarismo do federalismo orçamental, por outro, forçam à desagregação e rompem qualquer resquício de solidariedade. Uma Europa desenhada para sacrificar o trabalho em prol da finança.

É por isso que a Europa não se consegue defender de si mesma. A União Europeia não só não foi capaz de responder à crise, como transformou-se num instrumento ativo do maior ataque de sempre aos salários e ao estado social. Sucessivos tratados (sobretudo o de Lisboa), as regras do Banco Central Europeu e do Euro, o Tratado Orçamental reduziram a UE a um instrumento na mão do capitalismo e dos mercados financeiros, que em tempos de austeridade se transforma numa violenta arma contra os povos. Uma UE no cadafalso da finança.

Em véspera de eleições europeias, a pergunta que se impõe é : Como salvamos a Europa? Como a resgatamos do cadafalso?

A esquerda europeia recusa a saída conservadora ultranacionalista da extrema direita que culpa os emigrantes, os estrangeiros, a democracia. Mas não podemos ignorar a pergunta que fará também o povo deste país: Que Europa é esta que nos condena à pobreza, ao desemprego e aos salários baixos? Que Europa é esta que impõe a privatização e a destruição da economia e só dá em troca miséria e mal viver?A resposta só pode ser: Esta não é a nossa Europa. 

No Bloco, rejeitamos a chantagem da dívida que justifica a austeridade. Recusamos autoritarismo federalista orçamental. Não confundimos de que lado estamos. Nas próximas eleições europeias bater-nos-emos, contra o pacto centrista que está a corroer os direitos sociais e as garantias democráticas constitucionais. Combatendo a pobreza, combateremos os fantasmas da extrema-direita. O desafio é imenso, porque a velha história do fascismo repete-se sempre que a democracia se põe no caminho do lucro, mas só se não tivermos força para o travar. Dia 25 travemos a austeridade para inverter a história.

Gualter Costa – Coordenador Concelhio Bloco de Esquerda Trofa – gualter.costa@outlook.com

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