Ano 2011
Opinião
Nestes tempos controversos e perigosos dou comigo a ouvir esse texto escrito «…de um só jorro, numa noite de fevereiro de 1979» do Zé Mário Branco e por ele interpretado de forma magistral. Não passaria de uma obra de arte, de valor histórico e político, se não fosse um texto tão atual, onde apenas mudam as personagens, com a exceção de uma: o FMI. Um texto maldito que começa sarcástico, cáustico para progressivamente impor um silêncio absoluto pelo tumulto da locução e o jorro dos vocábulos, da provocação e do vitupério. Da fúria armazenada chega ao pranto convulsivo e ao desencanto. Mas no fim a esperança subsiste.
A luta permanece com simplicidade e naturalidade. Este texto do Zé Mário, que a todos recomendo e que se encontra no seu duplo CD «Ser Solidário», é um alimento para a resistência a esta política ditatorial imposta pelos carrascos financeiros e inspiração para a transformação do mundo e mudança para um tempo melhor para todos. A determinada altura um “gajo” exclama: «a culpa é dos partidos, pá. Esta merda dos partidos é que divide a malta». Um outro avisa-o: «deixaste cair o porta-chaves do carro, o que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?». Hoje, também os nossos brilhantes analistas afirmam que o momento exige a unidade e entendimento de todos, que o passado não interessa, mas sim a resposta para o futuro. É claro que estes analistas escondem os seus porta-chaves e as orelhas de preto ou de branco que os enfeitam. Então pergunto eu. Se alguém cometer um crime, esquece-se? O que interessa é que não cometa mais? Não. Se Portugal e os portugueses estão como estão, há culpados. Desde logo Cavaco Silva e o PSD. Os seus governos submeteram-se completamente à política da União Europeia. Receberam milhões e milhões, que aplicaram sem fiscalização nem controlo. Em troca destruíram o nosso aparelho produtivo, a nossa indústria transformadora, metalúrgica, química e alimentar, as nossas pescas e a nossa agricultura.
Foi no tempo desses governos que surgiram as primeiras grandes superfícies, que provocaram a liquidação do comércio tradicional. Foi nesse tempo que se limitaram as entradas nas faculdades, nomeadamente na de medicina e por isso, hoje, somos deficitários em médicos. Foi nesse tempo que se abriram as portas do crédito, que se aliciaram os portugueses, que lhes criaram o sonho de virem a ter tudo, bons carros, boas casas, boas mobílias, bons eletrodomésticos, boas férias, à custa de empréstimos. Onde está o resultado dessa política? No estado em que nos encontramos. Mas Cavaco Silva e o PSD ainda são culpados nos factos mais recentes, dado que continuaram a apoiar esta política, agora com Sócrates e o PS como comandantes. Assim, aprovaram e apoiaram os sucessivos PEC e Orçamentos de Estado e só agora, por outros motivos, que se prendem com a ganância do poder e de ataque cego aos direitos sociais e laborais (não esquecer a tentativa de revisão constitucional do PSD de acabar com o conceito de justa causa nos despedimentos e o afirmar recente da insuficiência das medidas do PEC4), originaram a atual crise política. De Sócrates e do PS nem vale a pena falar. Rendidos completamente aos interesses alemães e aos agiotas “mercados” que nos sugam até ao tutano são, tal como o PSD, apenas parte do problema e nunca serão parte da solução. Aqueles que nos conduziram ao “buraco” não nos conseguirão tirar dele. Mais fácil seria evitá-lo.
Todos os referidos nos levaram para esta Europa que diziam ser nossa amiga. Se assim fosse, como se explica que o BCE empreste dinheiro aos bancos europeus a um por cento para estes, posteriormente, cobrarem elevadas taxas de juro aos estados, empresas e famílias, obtendo chorudos lucros. Segundo estudos recentes a banca que opera em Portugal, entre 2008 e 2010, cobrando juros entre 5,05 por cento e 6,87 por cento, embolsou neste esquema a quantia de 4 684 milhões de euros. Ainda por cima, pagando a banca os impostos que se sabe. Com amigos destes…O engraçado é ser o receituário ora apregoado e induzido por PS, PSD, CDS, FEEF, CE, FMI e restantes amigos o mesmo que foi aplicado na Grécia e na Irlanda, com os magníficos resultados a olhos vistos. É aqui que apetece dar os gritos que o Zé Mário vocifera no “FMI”.
Portugal e os portugueses não estão condenados ao fracasso. Portugal é um país com potencialidades. Desde logo com muitas mãos para trabalhar e para produzir. Com riquezas no solo e no subsolo. Com um clima privilegiado. O que necessitamos é de gente séria e que faça da política a arte de inventar um mundo equilibrado, de preservar a vida com qualidade sobre todas as coisas e de fazer da felicidade do ser humano o seu principal objetivo. Um grupo largo de independentes que se situa à esquerda, conjuntamente com todas as forças políticas à esquerda, nomeadamente o Partido Comunista Português, constituem uma força alternativa no rumo de uma política com essas características, com a garantia de que sim, é possível um Portugal melhor. É por essa bandeira que me bato, é por essa mudança a sério que me transcendo pois, concluindo com o Zé Mário «…o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui, de vez».
Guidões, 16 de Abril de 2011.
Atanagildo Lobo
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