Ano 2010
A biodiversidade e os trofenses
A Trofa “é um concelho ainda com alguma biodiversidade”. No entanto Cândido Novais, da ADAPTA, alerta para a necessidade de preservar a vida selvagem e a floresta, para que todos possamos viver melhor.
“A espécie humana está dependente da maneira como cuida da biodiversidade”. Este foi o alerta deixado por Cândido Novais, presidente da ADAPTA – Associação para a Defesa do Ambiente e do Património na Região da Trofa. A terminar o Ano Internacional da Biodiversidade, o NT foi saber junto da associação como se desenvolvem os ecossistemas no concelho da Trofa.
O primeiro passo, de acordo com Cândido Novais, é “tomar conhecimento da biodiversidade e das ameaças”, que é o que tem feito esta associação trofense, já reconhecida como instituição de utilidade pública.
Segue-se o processo de sensibilização das populações de que a sua sobrevivência, depende do desenvolvimento dos ecossistemas. Por isso, Cândido Novais desmistifica: “O sapo é o melhor amigo do jardineiro e da agricultura biológica”. Mas como este, outros animais podem ser amigos da agricultura e dos ecossistemas, como o licranço, “um réptil completamente inofensivo, que nem dentes tem, e que come caracóis por exemplo”. “Aqui na nossa região não existem cobras venenosas, mas mesmo as venenosas, quando sentem a raça humana afastam-se, só atacam se forem pisadas, e o veneno delas não mata a pessoa. Só poderá tornar-se perigoso se a pessoa for alérgica ao veneno”, explicou.
Na Trofa, e mais concretamente na freguesia de Covelas, “existem mais de metade das espécies dos anfíbios e répteis de Portugal”, como a lagartixa, diversas espécies de sapos, salamandras e algumas espécies de cobras. Mas para estes animais, em especial, a protecção das linhas de água começa a tornar-se fulcral. Para além da poluição, os cursos de água são muitas vezes alvo de “vandalismo”. “Não é um vandalismo declarado, é um vandalismo inconsciente”, esclarece Cândido Novais, referindo-se aos praticantes de desportos todo-o-terreno, que com os seus jipes, moto 4 e motas, “não só utilizam trilhos, como utilizam linhas de água para fazer os percursos”, lamentou.
Também em risco está a raposa, embora ainda não seja considerada “uma espécie ameaçada”. “Há uma grande dificuldade de movimento desse animal por causa da linha ferroviária e rodoviária. Há ainda uma inconsciência por parte dos caçadores, que sabemos que o fazem por lazer, mas que deveriam fazer a contagem do número de indivíduos e definir quantos animais podem abater em cada caçada”, explicou. No entanto, Cândido Novais garante: “Não somos contra a caça, somos é contra a desregulação com que ela é feita”.
Área florestal ameaçada
Os incêndios também são uma preocupação para os membros da ADAPTA. “O incêndio do ano passado em S. Gens fez-nos doer a alma. Mas este ano, na zona de Cedões e o que lavrou na Quinta do Paiço, foram muito penalizadores para o ambiente, para a biodiversidade e, naturalmente, para os habitantes”, explicou.
Apesar de serem melhoradas as formas de combate e haver mais recursos, Cândido Novais garante que isso não vai fazer acabar com estes incêndios: “O que é preciso alterar na Trofa e noutras zonas do país é a espécie de floresta. É preciso começar a fazer uma plantação de floresta de árvores folhosas, ou seja, espécies autóctones, que ardem com menos facilidade e quando ardem a propagação é mais lenta e o fogo é mais fácil de combater”.
“Mais de metade da área do concelho é florestal”, mesmo assim “a floresta autóctone não tem percentagem definida”. E é precisamente essa a preocupação dos membros da ADAPTA: “Os eucaliptos são um tipo de floresta que arde com facilidade, a propagação é rápida e o combate torna-se difícil, depois é uma espécie exótica e invade tudo, propaga-se muito rapidamente, consome nutrientes que as outras árvores precisam e não deixa desenvolver outras espécies de vegetação”.
Para além disso os eucaliptos são “um sumidouro de água”, porque “consomem a água toda para crescer”. “Compreendemos a importância do eucalipto a nível económico, mas tem que haver uma monitorização, temos de fazer contas, ir para o terreno e dizer qual é o número de plantações aceitável, para não interferir drasticamente nos ecossistemas e na biodiversidade, como acontece actualmente em Covelas”, lamentou.
“Covelas tem todas as condições para ser uma freguesia com excelente qualidade de vida”, garantiu. Mas “tem alguns problemas como as descargas na principal rede de água (Rio Trofa), os maus cheiros e o excesso de cultivo de eucaliptos, que é tremendamente assustador”.
O ritmo de extinção que a biodiversidade leva é “preocupante”. “Segundo estudos chegam a desaparecer no Mundo três espécies por hora”, lembrou Cândido Novais. “O que a ADAPTA defende é a aposta numa cidade atractiva, harmoniosa e com qualidade de vida”, frisou.
“Parque das Azenhas é a menina dos nossos olhos”
“É um grande projecto”. Foi desta forma que Cândido Novais apelidou o Parque das Azenhas, considerado “a menina dos olhos” da ADAPTA, e que parece ser um passo importante no encontro da preservação da biodiversidade. “Esse corredor junto ao Rio Ave é necessário. A qualidade de vida das pessoas passa por ter acesso a esse tipo de locais”, explicou.
Novais sabe que “a população está de costas voltadas para o rio”, no entanto acredita que com esta requalificação das margens ribeirinhas “os trofenses vão poder usufruir mais dessa zona verde e poder andar de bicicleta ou a pé”, sem ter de recorrer aos parques vizinhos. “Li há pouco tempo num estudo, que 15 minutos a andar a pé ao fim de um dia de trabalho alivia muito o stress, mas se for junto a um rio, dizem que cinco minutos basta, isto mostra a importância do contacto com estes espaços, e, infelizmente, na Trofa já vão uns 30 anos em que isso não acontece”, esclareceu.
Cândido Novais evidenciou ainda a importância da despoluição do Rio Ave: “A despoluição do Rio Ave passa pelo redimensionamento da ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) de Agra. Também foi construída uma ETAR para tratamento das águas residuais de Vila do Conde e Póvoa de Varzim, também a montante houve a construção e redimensionamento de algumas ETAR em Guimarães e mesmo em Santo Tirso”. A melhoria da qualidade das águas do rio “é importante” pois o presidente da ADAPTA acredita que o Rio Ave pode voltar a ser “um espaço de lazer, as pessoas podem lavar, pescar para comer e desenvolver outras actividades”.
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